Do Site Novo Eleitoral
O afastamento da presidenta Dilma Roussef foi sentenciado por muitos como a queda de um governo de esquerda. Sem precisar incluir todas as teorias que englobam o termo “esquerda”, precisamos primeiramente esclarecer que o segundo mandato da petista passou longe de representar os ideais progressistas, embora eu concorde que toda a esquerda sofreu o baque do afastamento.
Há uma falsa dicotomia que enche os discursos dos desavisados ou dos oportunistas. O embate mais notório entre PSDB e PT está longe de representar a disputa real entre os projetos de direita e de esquerda, respectivamente. O Governo Dilma, fazendo uma análise mais recente, passou longe de representear os anseios populares. Impôs um ajuste fiscal que prejudicou os mais pobres, alterou leis trabalhistas - tomo como exemplo a mudança no acesso ao Seguro Desemprego que atacou diretamente o trabalhador sem formação e mais vulnerável a rotatividade do mercado - colocou no primeiro escalão a ruralista Kátia Abreu, ferrenha opositora dos movimentos sociais como o MST, sendo esta pauta a mais problemática das gestões petistas, que quantitativamente em número de assentamentos fizeram muito pouco pela reforma agrária. Isso sem citar questões emblemáticas como a quase ausente demarcação de terras indígenas e a famigerada Usina de Belo Monte, tão criticada por movimentos sociais e ambientais.
Assistimos a um governo petista de centro-direita, especialmente neste segundo mandato, ser questionado como um governo de esquerda. Essa análise superficial se dá por vários motivos, entre eles a pouca cultura política do brasileiro, que acaba caindo nessa disputa por poder, acreditando que se trata de um embate ideológico. Inclusive, uma boa parte dos insatisfeitos com a gestão do PT e que votaram no candidato oposicionista, deveriam observar que este programa implementado por Dilma é bem semelhante a proposta defendida pelo PSDB na última campanha.
Na votação pela admissibilidade do processo de impeachment no Senado, o senador Magno Malta (PR/ES) citou que o PT tem em curso um programa ideológico de implantação da ditadura do proletariado. Um comparativo como esse só evidencia que ou ele nunca leu absolutamente nada sobre as teorias marxistas, que fundamentam a esquerda, ou é um oportunista querendo exaltar os ânimos da direita, com uma distorção de realidade que beira o absurdo.
Mesmo que o PT não tenha representado os anseios da esquerda, a queda do governo representa um momento crucial para os movimentos de defesa da justiça social e dos ideais progressistas. Se a gestão petista não os representou, ela falou em nome deles. Como disse, José Antônio Lima, em artigo publicado na Carta Capital: “faça as muitas autocríticas necessárias e passe por uma constatação bastante simples: a esquerda não votou em Dilma Rousseff para ter duas semanas de governo progressista e não pode se contentar com isso.