Do Estado de São Paulo
A publicitária Tatiana Lima, de 34 anos, procurou entender mais sobre política para combater o racismo que sofrera quando decidiu assumir os cabelos crespos. Até então, ela era uma mulher que não se interessava pelo tema. “A minha cabeça se abriu para a política quando despertei para a questão racial. Para rebater o preconceito, precisei me estruturar, porque não sabia de nada. E lendo sobre população negra, eu desaguei nas políticas públicas”, relata.
Assim como Tatiana, outras mulheres começaram a priorizar o tema, independentemente da causa. É o que revela a pesquisa Mapa Político da Hello Research, divulgada entre os meses de setembro e outubro.
O porcentual de mulheres que demonstram muito interesse por política em 2018, com foco no primeiro turno das eleições deste ano, foi de 20%, ante 30% dos homens eleitores.
Em 2014, o número do eleitorado feminino muito interessado era bem menor: somente 9%. De lá para cá, houve um aumento de 55% no assunto. À época, o porcentual de homens interessados pelo tema também era inferior: 10%.
Além disso, neste ano, 32% das mulheres entrevistadas revelam, ainda, não ter interesse algum no tema e 24%, pouco interesse. Em 2014, os índices eram 31% em ambas as categorias.
Ao todo, 1.993 pessoas das cinco regiões do País foram entrevistadas presencialmente entre 28 de julho e 7 de agosto – antes da oficialização das candidaturas. A margem de erro é de 2,2%.
Segundo o CEO da Hello Research, Davi Bertoncello, dois movimentos bastante significativos nesta eleição contribuíram para a ampliação do debate entre as mulheres: a importância dada ao voto feminino, apesar desta parcela de eleitorado ser maioria desde o ano 2000, e questões relacionadas à segurança pública.
“São dois temas que invadiram esta eleição e que ficaram presentes nas retóricas dos candidatos. Mas é uma discussão bem tardia, visto que as mulheres são maioria há 18 anos”, analisa.
A pesquisa também desenhou o perfil do eleitorado diante de pautas polêmicas, como descriminalização da maconha e legalização do aborto em qualquer situação.
Descriminalização da maconha
O estudo mostra que, em 2018, 21% do eleitorado feminino têm interesse na discussão sobre a descriminalização da maconha, contra 24% dos eleitores homens. Em 2014, o índice era maior: 27% no público feminino, ante 28% dos eleitorado masculino.
Legalização do aborto
Em 2018, a legalização do aborto em qualquer situação é de interesse para 12% das mulheres; já entre os eleitores homens, 14%. Quatro anos antes, 14% das mulheres demonstravam entender o tema, contra 16% dos homens.
União entre pessoas do mesmo sexo
A união homoafetiva, em 2018, é um assunto abarcado por 35% do eleitorado feminino, ante 26% dos homens. Os índices em 2014 eram de 32% e 24%, respectivamente.
Eleitorado é mais velho e feminino
O eleitorado feminino no Brasil alcança 53% em 2018, segundo registro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Quatro anos atrás, esta parcela representava 52%. Além disso, neste ano, 20% das mulheres eleitoras têm mais de 60 anos; 79% pertencem às classes C, D e E; e 54% somente têm o Ensino Fundamental completo.
Em 2014, os índices eram outros. Somente 13% do eleitorado feminino tinham mais de 60 anos; 78% estavam incluídas nas classes mais pobres e 63% tinham baixa escolaridade.
Caio Faheina