O grupo femininista mossoroense Motim Feminista começou mobilização sobre o caso da travesti Bia Beatriz, que continua internada na UTI do Hospital Regional Tarcísio Maia.
Em nota, o Coletivo questiona a versão de que lesões sofridas por Bia seriam somente da queda, com intenção de "impedir a apuração do que poderia (e conta com inúmeros indícios de que seja) um crime de ódio".
"O próprio prontuário médico questiona esta versão dos fatos que resume o acontecimento a uma mera queda".
Leia a nota na íntegra:
Nota da Coletiva Motim Feminista sobre o caso Bia Beatriz
Justiça para Bia Beatriz: Exigimos investigação policial independente e a intervenção de uma perícia médico-legal para apurar indícios de espancamento e de tentativa de homicídio._
Há mais de três dias internada, a travesti Bia Beatriz – popularmente assim conhecida nas ruas de Mossoró - está sofrendo em um leito do Hospital Regional Tarcísio Maia, vítima de fortes ferimentos e traumas internos. Sua internação foi acompanhada da divulgação fotos de Bia deitada junto a duas poças de sangue no Hotel Caraúbas, bem como um vídeo em que ela – com as pernas trêmulas e sem conseguir se sustentar – cai no interior de um bar localizado no Hotel Caraúbas. Rapidamente, promoveu-se uma versão de que todas as lesões que Bia sofreu foram decorrentes dessa queda, possivelmente na tentativa de dar por resolvido o episódio e impedir a apuração do que poderia (e conta com inúmeros indícios de que seja) um crime de ódio. Consequentemente, não faltaram julgamentos e culpabilização da própria vítima sobre todo o infeliz ocorrido, reforçando uma situação de impunidade.
Ao chegar no Hospital Tarcísio Maia, diversos profissionais relataram que a quantidade e a gravidade de lesões não era compatível com uma mera queda – mas sim com espancamento. A queda que Bia sofreu pode ter dado causa à fratura no nariz e algumas lesões na face – mas é incapaz de explicar seus olhos roxos (evidentes em fotos compartilhadas nas redes sociais), o politraumatismo no crânio, rosto e tórax, lesões na nuca e espalhadas pelo corpo. O próprio prontuário médico questiona esta versão dos fatos que resume o acontecimento a uma mera queda. Os vídeos das câmeras de segurança, compartilhados exaustivamente nas redes sociais, permitem perceber que Bia já estava trêmula e incapaz de se manter em pé desde quando entrou no Hotel Caraúbas
O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBT no mundo. E a expectativa de vida de uma pessoa trans é de apenas 35 anos. Mossoró surge, nesse cenário, como um espaço onde a violência é um sintoma do ódio. É nosso dever desconfiar de toda narrativa que culpabilize exclusivamente a vítima. A Coletiva Motim Feminista vem por meio desta nota afirmar que vidas trans importam, exigindo que esta possível tentativa de homicídio seja investigada enquanto tal. Exigimos investigação policial independente e a intervenção de uma perícia médico-legal para aferir se houve espancamento. Chamamos aliadas e aliados a fortalecer as campanhas de solidariedade e arrecadação de alimentos e itens básicos realizados em prol de Bia Beatriz, bem como se somar ao chamado de pressionar as autoridades a promover investigação e possível punição, no caso de ser confirmada a agressão física. Por mim, por nós, pelas outras e por todas as mulheres vivas!