Fábio Faria e o sogro, Silvio Santos, durante o batismo do filho, em foto postada pelo deputado no Facebook (Foto: reprodução) |
*Com informações do Congresso em Foco
O deputado federal Fábio Faria foi destaque na imprensa nacional. Isso porque 1/4 de todas as despesas declaradas (R$ 339 mil) pelo parlamentar foram somente com passagens aéreas. Ele utilizou em 2019 R$ 92 mil com as viagens. Mas o mais curioso é que dessas viagens 43 vezes foram para São Paulo, e para o Rio Grande do Norte ele veio só seis vezes.
O destaque foi dado pelo site Congresso em Foco, que realizou o levantamento. Vale lembrar que Fábio foi eleito pelo Rio Grande do Norte, com mais de 70 mil votos para o quarto mandato como deputado federal no ano passado. Das viagens ao RN, quatro vezes ele veio direto de Brasília e duas vezes a partir de São Paulo. O gasto com viagens ao estado que elegeu Fábio Faria foi pouco maior que R$ 15 mil. Isto é, somente 20% de todo o recurso investido nas viagens para a residência da família, em São Paulo.
O levantamento realizado pelo Congresso em Foco em parceria com o Instituto OPS revela que as viagens a São Paulo, por outro lado, levaram mais de R$ 72 mil da cota parlamentar. Fábio faria mora na cidade paulista com a esposa e apresentadora Patrícia Abravanel, que é filha do apresentador Silvio Santos, e os três filhos pequenos.
Regras
De acordo com o regimento interno da Câmara dos Deputados, a cota de passagens aéreas só deve ser utilizada para atividades relacionadas ao mandato e para o deslocamento do parlamentar para sua base eleitoral. Fica vedado, portanto, o uso para fins particulares.
Procurado, o deputado Fábio Faria garante, por sua vez, que a cota permite o custeio do deslocamento entre o trabalho e a residência do parlamentar. Ele diz então que, como tem residência em Natal e também em São Paulo, não tem problema em usar o dinheiro público para ir à capital paulista.
"De acordo com a Diretoria Geral da Casa, os deslocamentos do parlamentar entre seu domicílio e a Câmara dos Deputados cumprem integralmente com as normas pertinentes. É de conhecimento público que Fábio Faria tem residência em Natal e em São Paulo, onde vivem sua esposa e os três filhos pequenos", informou a assessoria do deputado, que também pediu para a Câmara se posicionar sobre o assunto, já que Fábio Faria é o atual terceiro secretário da Mesa.
A assessoria de imprensa da Câmara informou que o Ato da Mesa 43 "não estabelece vedação ao uso da cota em viagens nacionais, independentemente do destino escolhido pelo parlamentar ou do estado pelo qual ele foi eleito – tendo em vista que o mandato tem caráter nacional". "Ademais, é normal que o parlamentar possa retornar ao local escolhido para seu domicílio familiar ainda que este seja diferente daquele pelo qual foi eleito", acrescentou.
Relação com a base
O deputado garante que "esse fato não interfere na sua atuação política, já que mantém contato frequente com prefeitos e lideranças e está presente no Estado em compromissos pontuais". Ele ainda diz que usa bastante as redes sociais para manter-se em contato com seu eleitorado.
"Todas as semanas, o deputado Fábio Faria está presente em Brasília e o seu trabalho é em benefício do Rio Grande do Norte, focado em levar recursos e ações para os municípios e para o Estado. Nos últimos dois anos, foi o parlamentar que mais conseguiu recursos para o RN. Somente em 2019, destinou R$ 49,3 milhões em emendas para mais de 50 municípios e presta contas, diariamente, através da mídia e das redes sociais, onde tem forte interação com a população", alega a assessoria do deputado.
Farra das passagens
Um outro fato curioso é que Fábio Faria foi o pivô do episódio da "farra das passagens aéreas" em 2009. Neste ano, o Congresso em Foco revelou que Fábio Faria usou dinheiro da Câmara para bancar viagens da apresentadora Adriana Galisteu, que na época era sua namorada, e sua mãe. Também usou a cota de passagens aéreas para transportar artistas até Natal para que eles prestigiassem o seu camarote no Carnaval.
Após a reportagem, ele reembolsou a Câmara. O caso fez parte da série conhecida como farra das passagens, que mostrou como quase todos os parlamentares utilizavam a verba do Congresso para viagens particulares e voos de familiares, amigos e cabos eleitorais. A série rendeu o Prêmio Esso e o Embratel/Tim Lopes ao Congresso em Foco. Depois disso, a Câmara mudou as regras para impedir que a cota fosse usada para viagens particulares ou de terceiros que não tenham relação com o exercício do mandato.