Como tem se comportado as ocorrências de violência no período de distanciamento social? O Observatório do Nordeste para Análise Sociodemográfica da Covid-19 (ONAS) realizou uma análise demográfica para responder à questão.
Em dados de 7 de abril de 2020, entre 12 e 30 de março, o RN teve uma redução de 25% dos índices de violência se comparado ao mesmo período do ano anterior. Ao comparar esse intervalo de 19 dias com os 19 dias imediatamente anteriores ao início do distanciamento, a redução no RN foi de 27%. Contudo, alguns tipos de violência, como a doméstica, cresceram 23%, se comparado com o ano anterior, no mesmo período.
Com informações da Rede e Instituto OBVIO de pesquisa, em um novo período analisado, de 68 dias de distanciamento, observa-se a redução da violência no RN no período de distanciamento, quando comparado com o mesmo período de 2019 (20%). Porém, nota-se que tal redução foi bem inferior àquela observada entre 12 e 30 de março (25% no RN e 30% em Natal).
Novamente foi possível constatar que o distanciamento social contribui para a redução dos níveis de violência geral; porém, ao analisar um período maior de distanciamento, verifica-se que a redução não é tão intensa quanto aquela observada no início do período de distanciamento.
Aumento de violências
Isso ocorre em função do aumento de alguns tipos específicos de violência: no início do distanciamento (entende-se entre 12 e 30 de março), a violência doméstica cresceu 23% em relação ao ano anterior, enquanto que, no período maior de distanciamento (entre 12 de março e 18 de maio) o aumento foi de 259%. Em relação às tentativas de homicídio, o início do distanciamento apresentou um aumento de 36%, sendo que, no período maior de distanciamento, o aumento das ocorrências foi de 300%, quando comparado com o mesmo período de 2019. Curiosamente, a tabela mostra mais tipos de violência que tiveram aumento no período de distanciamento (quando comparado com o mesmo período do ano anterior, bem como com os 68 dias anteriores ao distanciamento), do que tipos violência que tiveram redução, nesses períodos de comparação.
Ao se detalhar a análise para as macrocausas, se observa uma redução de tipos de violências mais brandas, em contraponto ao aumento de crimes mais de maior gravidade.
O que ocorre, então? Em 2019, somente os acidentes de trânsito sem vítimas e as lesões corporais sem mortes representavam, juntas, 77% das ocorrências, e ambas tiveram reduções significativas durante o período de distanciamento (76% dos acidentes de trânsito e 43% das lesões sem mortes). Portanto, na comparação com o mesmo período de 2019, a redução destes tipos de ocorrência, em contraponto ao aumento da violência doméstica (258%), das tentativas de homicídio (300%), dentre outros, nos permite apontar que, muito mais importante do que a redução de 20% da violência no RN, é a mudança no tipo de violência a principal característica do período de distanciamento social.
Segundo a Rede e Instituto OBVIO de pesquisa, com o advento da pandemia da COVID-19 os criminosos passaram a buscar outros meios de obtenção de ganhos, haja vista a perceptível ausência da clientela recorrente. Outro revés da pandemia é o exaurimento de todas as ações estatais em busca da contenção da COVID-19, levando inclusive as forças de segurança a agirem em outras frentes, além de que, as diárias operacionais antes direcionadas para o combate ao crime, agora precisam ter um direcionamento para a saúde pública.
O estudo conclui ainda que as ações de policiamento ostensivo, investigação criminal e combate às ações criminais foram reduzidas, pois há o perigo de exposição ao vírus. Se, por um lado, praticamente a polícia e toda a sociedade buscam evitar a exposição à pandemia, com exceção de alguns incautos, a criminalidade não respeita essa lógica, e se dedica inclusive a conquistar novos domínios, aproveitando-se da situação e encerrar velhas pendengas com grupos rivais.
"Avaliamos, ainda, que todas as políticas de segurança pública foram estancadas por falta de recursos, pois boa parte está sendo consumida pelas ações de combate à pandemia, sendo que, sem aumento na disponibilidade financeira para ações de segurança, o estado começou a experimentar a naturalização de números positivos que não se sustentam sem investimento pesado em segurança", avalia o estudo.
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