Nosso objetivo, neste texto, é abordar questões relacionadas às mulheres negras (as que se autodeclaram pretas e pardas). O tema é amplo, e nessa escrita falamos sob viés do feminismo negro. Trazemos nossa voz, sempre na luta para vencer diversos obstáculos de formação, mesmo já estando num curso superior. Mas estamos sempre aprendendo! E nem sempre é um tempo fácil, quando temos as vozes silenciadas. Porém, resistimos e podemos mudar a nossa própria história.
Entendendo o contexto do racismo estrutural e seus impactos na vidas as mulheres pretas e pardas, temos uma leitura acerca disso. Nesse sentido, somos cientes da necessidade de autorreconhecimento. O empoderamento passa por conhecer a realidade que nos cerca, quem somos e o que podemos fazer para a transformação dessa sociedade na qual é imposta o silêncio às mulheres negras, que sempre foram e ainda são silenciadas, tal forma de ação caracteriza-se em, por exemplo, não se falar sobre a nossa ancestralidade. E por que a tantos anos isso vêm trazendo sofrimento.
Baseamos-nos em intelectuais negras para que possamos contar como é esse racismo, para agirmos no rompimento desse silêncio e contarmos uma outra história que não nos foi contada. Também para contarmos nossa história. Sabemos o porquê desse tratamento às mulheres negras durante toda um percurso histórico, só não entendemos por que esse fato é tão indiferente para alguns na sociedade. A questão racial ainda é pouco discutida em diversos ambientes, destacamos: em casa e no trabalho. E como isso afeta a todos.
A (in) visibilidade da mulher negra envolve toda uma emocionalidade. Indagamos, o que é ensinado às crianças negras, desde muito cedo? Que o racismo é algo "corriqueiro", "o outro tem de ser tratado como inferior pelo fato de ser negra ou negra" (pobre, preta e periférica) e que o seu lugar é, muitas vezes, de alguém que serve. Por sua vez, que não existe racismo. Mas na prática, a branca ganha mais que a negra, além disso, as mulheres negras são mais propensas a serem vítimas da violência e de atos racistas, tanto em casa como no trabalho, todos os dias. Sem contar que vemos poucas negras ocupando cargos em altos postos nas empresas.
"Ainda vem falar de meritocracia?" "Meritocracia para quem?" "E seus privilégios?" Quando vemos uma mulher negra que fala, articula, expõe sua opinião, por vezes presenciamos cenas de preconceito racial, por que não serem vistas de modo igualdade. É chamada de "metida", "exibida", e, se perguntam, o que ela está fazendo ali, com frases como: "para uma negra até que você é inteligente". Ou seja, tentam anular a presença.
Qual nosso lugar nisso tudo ? Escutando vozes de mulheres negras (pretas e pardas), falando sobre suas vivências ao longo da vida, vamos percebendo que estas sentem falta daquele carinho, de acolhimento, muitas vezes esperado dos mais próximos. Crescemos sendo ensinadas que nossa aparência é "feia", "fora dos padrões", que a cultura ancestral é "inapropriada" e, muitas vezes, nem falamos sobre isso. Quando adentramos no conhecimento e em nosso pertencimento.
O feminismo negro é profundo e tem muito o que nos contar! Ouçamos uma mulher negra. É um caminho longo a ser trilhado. E o quanto ainda somos atingidas, machucadas, objetificadas, pelo simples fato de sermos mulher e negras! Com o conhecimento vamos desconstruindo algumas questões, temores e falsos conceitos que norteiam a nossa própria existência. Nós mulheres negras podemos ajudar umas às outras nessa luta. E a nossa presença e lugar de fala se fazem necessárias. Somos a revolução.
*Denise Costa de Góis Alberto é integrante do Coletivo Negras, estudante da graduação em Psicologia, na Faculdade Católica do Rio Grande do Norte. É feminista, militante e antifascista.
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