Da ONU.org
O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), em parceria com a Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep), realizaram na semana passada (29) a 14ª edição da série de webinários “População e Desenvolvimento em Debate”.
Professores e pesquisadores foram convidados a fazer paralelos históricos com a pandemia da COVID-19. Uma das conclusões foi a de que a desigualdade social é, de fato, um grande obstáculo para o enfrentamento de crises sanitárias.
O Brasil do século 21, onde existem 108 celulares para cada 100 habitantes, convive com um Brasil ainda no século 19, onde 45 a cada 100 habitantes não têm solução adequada de esgotos (Foto: EBC) |
A professora do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Maria Nikelen Witter analisou a pandemia do cólera no Brasil em meados do século 19 e a comparou com o atual cenário.
De acordo ela, “o cólera naquele momento se apresentou não apenas como ameaça à vida, mas às formas com as quais a vida era organizada no período”, algo semelhante ao que a pandemia da COVID-19 trouxe hoje.
“Enquanto os pobres foram os mais atingidos no século 19, hoje não se pode falar que a COVID-19 seja uma doença ‘democrática’, eu não acredito em pandemia democrática. Sofrerá mais sempre quem estiver mais fragilizado em um mundo tão hierárquico e com tantas diferenças e desigualdades sociais como o nosso.”
Maria Alice Rosa Ribeiro, pesquisadora colaboradora do Centro de Memória da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), traçou paralelos com a epidemia de Influenza A (H1N1) na cidade de São Paulo (SP) em 1918.
A pesquisadora comparou as condições de moradia em diferentes regiões da capital paulista, e lembrou o número de mortes por 1 mil habitantes foi maior nos espaços sem acesso a água, esgoto, saneamento básico, higiene e alimentação apropriados. “Entre os bairros mais vulneráveis estavam os da região mais periférica, Mooca, Belenzinho, Brás e Bom Retiro”, afirmou.
Flavio Coelho Edler, pesquisador da Casa Oswaldo Cruz e professor da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), disse acreditar que é “sempre temerário traçar paralelos entre as epidemias e pandemias do passado e a atual pandemia, pois, para cada historiador, cada epidemia tem suas particularidades ligadas ao modo de vida de cada grupo humano”.
A mediação do webinário foi feita por Ana Silvia Volpi Scott, professora da UNICAMP.
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