terça-feira, 13 de abril de 2021

Os 100 dias de conhecimento e controle em Mossoró

Período é de enfrentamento de dificuldades incomuns e sabotagens em transição que não houve

A gestão do prefeito mossoroense Allyson Bezerra (Solidariedade) chega aos primeiros 100 dias. Com esse número emblemático vem aquela exigência que não é formal nem institucional, mas do nosso costume político e jornalístico, de se estabelecer radiografia que revele o espírito do período. Os seus erros e acertos.

O jovem prefeito mossoroense prioriza o conhecimento e o controle da máquina pública. Está claro: não dá nem dará passadas mais largas sem saber onde coloca os pés.

Primeiros 100 dias levam prefeito diariamente às ruas, a obras e à má-fé de quem não soube perder
(Foto: redes sociais)

A prevenção faz sentido. Ele tem a missão de administrar o terceiro maior orçamento do RN – atrás apenas do Estado e Prefeitura do Natal -, está no olho do tufão da segunda onda da pandemia da Covid-19, além de ter escassa e desencontrada informação sobre a máquina pública. Houve nítida má-fé da administração anterior na passagem de governo, preparando inúmeras armadilhas para lhe causar problemas.

Continuidade de projetos remanescentes, implementação de novas políticas e diretrizes governamentais, a captura de dados para compatibilização e confecção de um planejamento de curto e médio prazos, não serão possíveis sem esse conhecimento e controle. O Plano de Metas não é a mesma coisa de “Plano de Governo”, apresentado como exigência ainda no período de candidatura.

Allyson Bezerra assumiu a prefeitura sem direito a saber o que estaria em suas mãos. A transição de governo não se efetivou. O discurso da “casa arrumada” que propagaram na campanha municipal era outro estelionato eleitoral. Deixou-se um rombo multimilionário em passivos urgentes e dívidas fundadas (longo prazo), que revelam como a municipalidade era tratada há décadas.

Nem mesmo decisão judicial (veja AQUI) determinando que a então prefeita Rosalba Ciarlini (PP) facilitasse apresentação de documentos e dados oficiais, chegou a ser cumprida. Ela não permitiu que a mudança de governo acontecesse de forma decente e republicana. Não era seu interesse, após derrota nas urnas.

Sabotagens

Passado esses 100 dias, é evidente a partir dessa fração de pouco mais de três dos 48 meses de governo que tem pela frente, que Allyson abrandou a fúria do touro bravio. Entretanto, não o domou completamente. As tentativas de sabotagem não prosperaram como desejado, mas continuam, da mesma forma que velhos vícios do serviço público precisarão de remédios mais fortes.

A estimativa por tudo que foi deliberadamente aprontado, era de que o prefeito “abestalhado” (um dos apelidos que o rosalbismo adesivou no então candidato) tivesse dificuldade de circular em público, acumulasse atraso na folha de pessoal de sua administração e o município estivesse semiparalisado.

Prefeito recebe médicos para atuação em UBS’s (Foto: PMM)
Erraram no cálculo da maldade e subdimensionaram a capacidade do eleito.

Porém, o prefeito terá de avançar. Após superar esse redemoinho inicial, não faltam exigências que precisam ir ao encontro de promessas de “mudanças”, de alteração não apenas de nome e sobrenome do inquilino do Palácio da Resistência, mas de costumes e modelo de governança.

Reformas

Uma reforma administrativa que modernize a municipalidade, reduza seu custo e proporcione serviço satisfatórios à clientela (os munícipes), não poderá ser levada com a barriga por meses e anos. É urgente um novo Plano Diretor que a ex-prefeita ignorou, da mesma forma que evitou reforma previdenciária.

É imprescindível a eficiência fiscal, o avanço do município no estímulo ao emprego e renda, redução de desigualdades sociais, priorização da saúde preventiva (atenção básica), além de fomento à atividade produtiva, por exemplo. A cultura não pode continuar sendo de festim e de patotas, ignorando expressões populares e eruditas, riquezas históricas e o restante dos bens arquitetônicos da cidade.

Infalível, Allyson Bezerra não o é. Consciente, tem tido a capacidade de ouvir, recuar de fórmulas ou medidas que não funcionam e montou uma equipe de nomes que fugiram ao comum (em décadas). Em sua grande maioria, é gente vitoriosa em suas respectivas áreas de atuação e técnicos por excelência.

Se esses e outros aspectos administrativos avançarem, pagar salário em dia deixará de ser feito e manchete mensal no noticiário.

Na política, o prefeito tem administrado com altos e baixos a convivência com bancada numerosa de 17 vereadores (eram 18, mas um foi estimulado a voltar pro rosalbismo). Lida com uma oposição que prefere atacar à sombra do anonimato e terceirização de vozes.

Sem isolacionismo

Do zero ao Palácio da Resistência: desafio reformista
(Foto: redes sociais)
Entretanto, abriu diálogo sem distinção com todas as forças políticas do estado, evitando o extremismo ou posições isolacionistas. Foi de Natal a Brasília, conversar com a governadora Fátima Bezerra (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Dialoga com deputados, secretários de estado e ministros da República, indistintamente.

Pode ser dito, que Allyson Bezerra sobreviveu às intempéries iniciais num tombadilho que continua escorregadio e traiçoeiro. Ele não faz um governo de continuidade oligárquica, nepotista e fechado em si.

Será reformador, para melhor, se mudar muito. Pouco não adianta. Praticamente começa do zero essa marcha, assim como foi sua campanha vitoriosa em 2020.

Se controlar a ansiedade comum à juventude, gerir a vaidade de quem coleciona façanhas na vida e na política e rechaçar qualquer faceta autoritária e personalista, vai ter muito o que comemorar (ainda mais) no primeiro ano de governo e mais adiante. Vamos aguardar.

Leia também: O que mudou nos primeiros 100 dias com Rosalba (Os 100 primeiros dias de Rosalba)

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