Período é de enfrentamento de dificuldades incomuns e sabotagens em transição que não houve
A gestão do prefeito mossoroense Allyson Bezerra (Solidariedade) chega aos primeiros 100 dias. Com esse número emblemático vem aquela exigência que não é formal nem institucional, mas do nosso costume político e jornalístico, de se estabelecer radiografia que revele o espírito do período. Os seus erros e acertos.
O jovem prefeito mossoroense prioriza o conhecimento e o controle da máquina pública. Está claro: não dá nem dará passadas mais largas sem saber onde coloca os pés.
Primeiros 100 dias levam prefeito diariamente às ruas, a obras e à má-fé de quem não soube perder (Foto: redes sociais) |
A prevenção faz sentido. Ele tem a missão de administrar o terceiro maior orçamento do RN – atrás apenas do Estado e Prefeitura do Natal -, está no olho do tufão da segunda onda da pandemia da Covid-19, além de ter escassa e desencontrada informação sobre a máquina pública. Houve nítida má-fé da administração anterior na passagem de governo, preparando inúmeras armadilhas para lhe causar problemas.
Continuidade de projetos remanescentes, implementação de novas políticas e diretrizes governamentais, a captura de dados para compatibilização e confecção de um planejamento de curto e médio prazos, não serão possíveis sem esse conhecimento e controle. O Plano de Metas não é a mesma coisa de “Plano de Governo”, apresentado como exigência ainda no período de candidatura.
Allyson Bezerra assumiu a prefeitura sem direito a saber o que estaria em suas mãos. A transição de governo não se efetivou. O discurso da “casa arrumada” que propagaram na campanha municipal era outro estelionato eleitoral. Deixou-se um rombo multimilionário em passivos urgentes e dívidas fundadas (longo prazo), que revelam como a municipalidade era tratada há décadas.
Nem mesmo decisão judicial (veja AQUI) determinando que a então prefeita Rosalba Ciarlini (PP) facilitasse apresentação de documentos e dados oficiais, chegou a ser cumprida. Ela não permitiu que a mudança de governo acontecesse de forma decente e republicana. Não era seu interesse, após derrota nas urnas.
Sabotagens
Passado esses 100 dias, é evidente a partir dessa fração de pouco mais de três dos 48 meses de governo que tem pela frente, que Allyson abrandou a fúria do touro bravio. Entretanto, não o domou completamente. As tentativas de sabotagem não prosperaram como desejado, mas continuam, da mesma forma que velhos vícios do serviço público precisarão de remédios mais fortes.
A estimativa por tudo que foi deliberadamente aprontado, era de que o prefeito “abestalhado” (um dos apelidos que o rosalbismo adesivou no então candidato) tivesse dificuldade de circular em público, acumulasse atraso na folha de pessoal de sua administração e o município estivesse semiparalisado.
Prefeito recebe médicos para atuação em UBS’s (Foto: PMM) |
Porém, o prefeito terá de avançar. Após superar esse redemoinho inicial, não faltam exigências que precisam ir ao encontro de promessas de “mudanças”, de alteração não apenas de nome e sobrenome do inquilino do Palácio da Resistência, mas de costumes e modelo de governança.
Reformas
Uma reforma administrativa que modernize a municipalidade, reduza seu custo e proporcione serviço satisfatórios à clientela (os munícipes), não poderá ser levada com a barriga por meses e anos. É urgente um novo Plano Diretor que a ex-prefeita ignorou, da mesma forma que evitou reforma previdenciária.
É imprescindível a eficiência fiscal, o avanço do município no estímulo ao emprego e renda, redução de desigualdades sociais, priorização da saúde preventiva (atenção básica), além de fomento à atividade produtiva, por exemplo. A cultura não pode continuar sendo de festim e de patotas, ignorando expressões populares e eruditas, riquezas históricas e o restante dos bens arquitetônicos da cidade.
Infalível, Allyson Bezerra não o é. Consciente, tem tido a capacidade de ouvir, recuar de fórmulas ou medidas que não funcionam e montou uma equipe de nomes que fugiram ao comum (em décadas). Em sua grande maioria, é gente vitoriosa em suas respectivas áreas de atuação e técnicos por excelência.
Se esses e outros aspectos administrativos avançarem, pagar salário em dia deixará de ser feito e manchete mensal no noticiário.
Na política, o prefeito tem administrado com altos e baixos a convivência com bancada numerosa de 17 vereadores (eram 18, mas um foi estimulado a voltar pro rosalbismo). Lida com uma oposição que prefere atacar à sombra do anonimato e terceirização de vozes.
Sem isolacionismo
Do zero ao Palácio da Resistência: desafio reformista (Foto: redes sociais) |
Pode ser dito, que Allyson Bezerra sobreviveu às intempéries iniciais num tombadilho que continua escorregadio e traiçoeiro. Ele não faz um governo de continuidade oligárquica, nepotista e fechado em si.
Será reformador, para melhor, se mudar muito. Pouco não adianta. Praticamente começa do zero essa marcha, assim como foi sua campanha vitoriosa em 2020.
Se controlar a ansiedade comum à juventude, gerir a vaidade de quem coleciona façanhas na vida e na política e rechaçar qualquer faceta autoritária e personalista, vai ter muito o que comemorar (ainda mais) no primeiro ano de governo e mais adiante. Vamos aguardar.
Leia também: O que mudou nos primeiros 100 dias com Rosalba (Os 100 primeiros dias de Rosalba)
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