Por Will Vicente*
O fel das fakes traz do inconsciente o desejo mais reprimido da desgraça, especialmente contra quem a violência mais afeta: o pobre
Quando a imprensa nacional publicou, no dia 19 deste mês, que, no dia 17, a Embaixada dos Estados Unidos havia emitido uma nota, solicitando aos norte-americanos com viagens marcadas ao Rio Grande do Norte para revisarem seus planos por conta da onda de ataques criminosos iniciada no dia 14, a indústria da Fake News salivou.
Neste momento de crise em solo potiguar, há notícias falsas bem mais graves rodando as redes sociais a todo tempo, o que revela um regozijo contra o bem do RN. Sim, porque atacar Fátima e todo governo com o fel das fakes é trazer do inconsciente o desejo mais reprimido da desgraça, especialmente contra quem a violência mais afeta, onde a corda sempre arrebenta, do lado mais fraco: dos pobres atingidos por não conseguirem pegar um ônibus para trabalhar ou que sofrem violência física mesmo. E pior, depois surge o cinismo travestido de solidariedade. É uma sequência de incoerências que não dá para tomar nota.
Porém, diante de tantas informações falsas, detive-me nessa, como exemplo, apenas para pensar rente sobre o perigo e porque ela é de uma manufatura tão grotesca que não há como não sentir vergonha alheia à primeira vista, mesmo para quem não tem fluência em inglês, como eu. Paro para pensar nessa Fake por ela até ser cômica, embora trágica como todas são. Repudio qualquer uma.
Rio Grande do Norte será sempre Rio Grande do Norte: aqui, nos Estados Unidos ou na Cochinchina. De todo parco idioma utilizado na montagem, coisa que talvez sequer o Google Tradutor seria capaz de fazer, “In Big River do North” é a mais bizarra tradução do português para o inglês no falso pergaminho atribuído à governadora. O Instagram Brazilian Version não viu essa.
A risível Fake News foi checada pela Agência RN Fato ou Fake e ratificada sua manipulação.
Portanto, defender um ideal político é uma coisa, torcer pelo pior (e produzir Fake News é torcer pelo pior, compartilhar a perversidade, a calamidade, o infortúnio, a mazela) não é fazer oposição. O momento não é de fazê-la, pelo menos não nivelada e balizada pelas fakes, pelos interesses individuais de poder.
A vez é de unir forças contra os ataques.
Entretanto, a irresponsabilidade com a Comunicação feita por deus-dará nada mais produz do que um escroto e insidioso levante político, quase uma esquete forjada em desigualdade de partidos, uma peleja imaginária que está levando o que resta do jornalismo, ou os que pensam exercê-lo, a um surto de comparações disparatadas. Cabe aqui lembrar que informação falsa confeccionada intencionalmente é o que chamamos de Fake News e notícia errada, como a própria palavra já diz, é uma apuração equivocada, sempre corrigida quando há o bom jornalismo em exercício.
O problema maior é que para a população em geral, com a internet na palma da mão, a desinformação é carregada por uma bateria política em alta voltagem de pseudo-conhecimento capaz de convencer o cidadão que a ele está sendo oferecido um pensamento complexo, de tal maneira a dificultar o reconhecimento entre quem, de fato, comunica ou surrupia a informação e o jornalismo.
Assim, a ignorância saiu da sarjeta e virou uma bijuteria cravejada de diamante saudita que reluz contra a democracia. Não importa o debate, até porque onde há violência não há debate.
Estão a defender o terror? Talvez alguns não percebam, mas no final das contas é isso que estão fazendo com informações falsas e/ou discursos de ódio.
Destarte, agredir Fátima não é atacar a própria e ao PT, somente. Além do vento misógino que sopra nessas terras eólicas, A Fantástica Fábrica de Fake News traz mais vantagem para o crime organizado do que prejuízo para o governo. Enquanto a batalha (nem tão paralela) das fakes atravessa o Wi-Fi ou o 5G, as facções ganham terreno.
Se, por um lado, os governos tem obrigação de combater o crime, mas atentar para os Direitos Humanos, por outro é avassalador olhar para um mesmo povo a compartilhar informações falsas, dando vazão a ímpetos, o que, por natureza, não tem qualquer tipo de freio, na moral ou ética, por exemplo. Sobrepõe-se o instinto pelo poder à consciência para satisfazer o egoísmo em suas múltiplas nuanças (o patriarcado, especialmente). Mata-se o superego em nome de garantir um privilégio individual ou de um grupo. Na psicologia das massas, a razão não tem voz. Segue-se um comando cegamente. Neste ensaio sobre a cegueira, estão a deixar de ser humano, demasiadamente humanos. É feudal.
É o retrato da maldade desnudada nos últimos 4 anos do quanto pior, melhor. Alguém está lucrando com Fake News, nesse caso conscientemente, ou não seria indústria.
Pela proteção da vida, devolvam o cultivo do ódio as profundezas do inconsciente e trabalhemos pelo fim da guerra. O debate eleitoral democrático deve existir, a alternância de poder também, mas no cenário das urnas, não das armas.
*Williams Vicente é jornalista; especialista em Assessoria e Gestão da Comunicação pela Faculdade Católica do RN; Mestre em Ciências Sociais pela Uern. Atualmente é servidor da Uern.
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