Cada qual defende seu mandato e as expectativas de reeleição. Claro, sem esquecer de apontar o dedo para os adversários.
Imagem circulou nas redes sociais dos próprios apoiadores da Prefeitura de Mossoró (Imagem: reprodução) |
Por Moisés Albuquerque
Vez por outra fujo das habituais crônicas do cotidiano. Hoje é um desses dias. No final de semana recebi uma imagem que me deixou inquieto e preocupado. Uma fotografia que mostrava dentro de uma sala de aula da rede municipal (e no ambiente escolar) agentes de segurança da Guarda Civil com armas em punho ao lado de crianças do ensino infantil. Isso mesmo, ensino infantil.
Fotos que mostram como falhamos enquanto sociedade e como os governos estão alheios ao que verdadeiramente poderia ser feito. Para nossos governantes e legisladores vale muito mais uma imagem impactante no Instagram, uma live bombástica no Youtube, trend no Tiktok, uma ‘lacrada’ no Twiiter do que buscar soluções efetivas para os problemas da população. É um festival midiático. Cada qual defende seu mandato e as expectativas de reeleição. Claro, sem esquecer de apontar o dedo para os adversários. O povo, obviamente, segue pagando essa conta.
Poderíamos elencar dezenas, centenas de absurdos em diferentes níveis, mas hoje vamos abordar o contexto da educação e da violência nas escolas. Temos um fato: escolas são alvo de ataques criminosos protagonizados por alunos, ex-alunos e por pessoas de fora da comunidade escolar.
Esses episódios recorrentes no País sempre acendem o sinal de alerta (não é de hoje). As autoridades vão lá e apresentam suas ações reativas. Aumento da ronda nas proximidades das escolas, porta com detector de metal, cabines à prova de bala, seguranças armados disfarçados na porta do colégio e, pasmem, até homens da guarda municipal empunhando submetralhadoras dentro das salas de aula. E claro, tudo com fotografia para ‘viralizar’ nas redes sociais. Registre-se que as ações reativas são necessárias e importantes (o que descredibiliza é a pirotecnia dos nossos gestores).
Mas a educação há muito precisa ser pensada e executada com um olhar voltado para os sujeitos. Nos perdemos em toda a carta de exigências do mercado. As escolas querem alunos “prontos para vencer”. Ser o primeiro no ENEM. Estar no topo. Dominar todos os conteúdos e operações. Todas essas habilidades são relevantes, mas esquecemos que antes de ser aluno, somos humanos. E aquelas crianças, adolescentes e jovens NÃO SERÃO sempre os primeiros. Vão passar por frustrações, derrotas, quedas. Infelizmente o humano tem sido deixado de lado há algum tempo. Bom seria que todos subissem no lugar mais alto do pódio. Mas na corrida da vida não é assim. Precisamos também compreender que somos feitos de subjetividades, emoções e matérias que não se aprendem no banco do colégio.
Enquanto as ações forem apenas reativas, enquanto só o resultado for o mais importante, vamos lamentar mortes de alunos, professores, invasões. O problema não está dentro da escola, mas fora dela. O contexto é muito mais amplo e requer dos governos políticas sociais, culturais, esportivas, sanitárias, econômicas. A mudança não vai acontecer em um ano, mas em uma década talvez já possamos colher alguns frutos. Isso é possível. Já existem bons exemplos em nível municipal, estadual e nacional.
Mas se os likes e curtidas forem sempre mais importantes para os gestores, esse cenário vai demorar a mudar. Armas nunca foram sinônimo de aprendizagem. Em lugar nenhum do mundo. A verdadeira revolução não se dá pela violência, mas pela educação.
*Moisés Albuquerque é jornalista, professor e mestre em educação.
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