Cúpula do PT no RN defende valores históricos do partido, mas há divergências
“A Nova Realidade Brasileira e os Desafios do PT” está marcada para dezembro. Após as eleições municipais, o Partido dos Trabalhadores vai reunir as maiores lideranças da sigla para avaliar o desempenho e pautar o comportamento e estratégias do partido para os próximos dois anos. Nomes de expressão como André Singer, Margarida Salomão e Renato Meireles deverão estar nas discussões. A conferência deve se basear nas mudanças que vêm ocorrendo no país nas últimas décadas e põe na mesa o debate sobre o espectro político ao qual o partido de Lula deve se colocar daqui em diante, se mais à direita, ou à esquerda. No Rio Grande do Norte, lideranças políticas também se manifestam sobre o assunto.
Nacionalmente, há grupos dentro do PT que defendem que a legenda se mova à direita. O ex-chefe da Casa Civil do primeiro governo Lula, ex-deputado federal e um dos fundadores do PT, José Dirceu, disse que o terceiro mandato do presidente Lula é de “centro-direita”, num seminário em São Paulo no dia 22 de abril. Segundo ele, “uma exigência do momento histórico e político que nós vivemos”.
No entanto, há dirigentes do PT que resistem à idéia e defendem a manutenção de posições históricas para não perder a identidade. A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, afirma que é preciso discutir os rumos da legenda “diante de um mundo novo do trabalho de diferentes formas de comunicação. Mas sem deixar para trás os valores e programas que nos trouxeram até aqui”.
A deputada federal Natália Bonavides (PT), responsável por um dos melhores desempenhos do PT nas eleições no país, apesar da derrota na disputa municipal em Natal, apoia que o fim de todo processo eleitoral traga avaliação e reflexão.
“Em 2024, o desempenho do Partido dos Trabalhadores em Natal foi um destaque inclusive em âmbito nacional. Obtivemos uma votação histórica na disputa para a prefeitura e ampliamos a bancada na Câmara Municipal. Na majoritária, tivemos voto em lugares da cidade em que o PT sempre tinha dificuldade de avançar, tudo isso sem abrir mão da defesa de um programa político à esquerda”, afirma.
No primeiro turno Natália obteve 110.483 (28,45%) dos votos, o levou o PT ao 2º turno na capital potiguar após 28 anos. No 2º turno, Natália obteve 179.714 (44,66%) votos. Ficou atrás do candidato Paulinho Freire (UB), também deputado federal, que alcançou 222.661 (55,34%) dos votos.
Para ela, o resultado é conseqüência da ocupação que o PT efetivou na cidade. O que deve ser, também, uma forma de defender os ideais históricos do partido: “É fundamental fazer a defesa nítida do nosso projeto de cidade, de estado, de país, convencer cada pessoa sobre o que defendemos e sobre o projeto de esquerda ser o que efetivamente atende aos interesses populares”.
O vereador Daniel Valença, vice-presidente do PT no RN, pontua igualmente o desempenho do partido em Natal como positivo, o que, segundo ele, demonstra a viabilidade da pauta da esquerda do PT.
“Provamos ser viável eleitoralmente a defesa de posições que de maneira recorrente são consideradas "impopulares", mas o são por nossos adversários, não deveriam ser alvo de dúvidas por quem é de esquerda e defende direitos e bem estar pra o conjunto da população”, explica Daniel.
Para ele, os valores históricos do partido são pautas que permanecem atuais.
“Acho os valores históricos do PT extremamente atuais. Continuamos vivendo em um país de capitalismo dependente, de abissal desigualdade econômica e social. Portanto, a luta por bem estar para a classe trabalhadora, por soberania nacional e pelo direito à diversidade continuam mais que atuais”, afirma Valença.
A presidente municipal do PT de Natal, deputada estadual Divaneide Basílio, argumenta que o PT segue, inclusive no âmbito nacional, implementando pautas à esquerda, com políticas sociais, como o “Pé de Meia” e a discussão que aconteceu sobre a taxação de grandes fortunas.
“Seguiremos essa linha de debate, sempre respeitando a diversidade de opiniões internas, mas com muita convergência sobre a necessidade de continuar avançando no Brasil com desenvolvimento e sustentabilidade”, esclarece Divaneide.
A deputada estadual Isolda Dantas, que é presidente do PT em Mossoró, segundo colégio eleitoral do Rio Grande do Norte, afirma que o PT é um partido vitorioso dentro das suas pautas à esquerda. Ela cita o crescimento de três para sete prefeitos no RN, a conquista do dobro de vice-prefeituras e do número de vereadores no Estado, além da ida de Boulos ao segundo turno em São Paulo. Tudo isso, de acordo com a deputada, após “uma onda de muita ofensiva da direita” para destruição do partido.
Isolda Dantas acrescenta que o crescimento da direita no mundo é, na verdade, uma crise civilizatória e, como conseqüência, a esquerda sofre também.
“A esquerda, óbvio, também entra em crise numa perspectiva de como enfrentar tudo isso, e somente do ponto de vista eleitoral é insuficiente para bater de frente com o avanço neoliberal. É preciso organização social, é preciso fortalecimento dos movimentos sociais e uma sociedade civil organizada e comprometida com a vida. Precisamos investir mais em educação, em políticas públicas, em dignidade humana, em bem viver e fazer esse diálogo direto com povo”, aponta Isolda.
“É possível governar dialogando mais ao centro”
Já o secretário de Gestão e Assuntos Institucionais do Governo do Estado e articulador político do Partido dos Trabalhadores no RN, Adriano Gadelha, admite que “os partidos de centro tiveram resultado substancial” no processo democrático de 2024. Ele acredita que a conjuntura atual leva o PT a se abrir para dialogar mais ao centro.
“Acho que o partido tem que adotar uma linha de primeiro convencer os setores do campo à esquerda que é possível governar dialogando mais ao centro. Até porque os resultados dos processos eleitorais e a governabilidade nos trazem isso como conjuntura real”, afirma.
Gadelha observa que o PT “já vem governando no Plano Nacional levando isso em consideração”. Ele coloca que esse é o desafio de convencer internamente os dirigentes, filiados, militantes e simpatizantes do partido.
“Repartimento do poder, num país como Brasil, onde você tem uma dependência orçamentária e administrável muito do Congresso Nacional; só governa quem tem senso de poder dividir a parte do poder com todos aqueles que compõem dentro do Congresso Nacional essa base aliada. Então, é olhar isso e sem perder de vista as políticas sociais, que são importante para aqueles que mais precisam, as obras que o país precisa e não perder o rumo do crescimento”, ressalta Adriano Gadelha.
O Diário do RN entrou em contato com a governadora Fátima Bezerra, o deputado federal Fernando Mineiro e o presidente estadual do PT no RN, Júnior Souto, mas não obteve retorno.
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