segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Sociedade pode criar ambiente mais acolhedor para crianças autistas

O relatório anual dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) indica que uma em cada 36 crianças de 8 anos é diagnosticada com TEA

Foto: reprodução

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) continua sendo um grande desafio para muitas famílias e – não seria um excesso dizer – para toda a sociedade. No exercício de sua profissão, o neurologista José Araújo, da Hapvida NotreDame Intermédica, tem sido testemunha de como o entorno das crianças autistas precisa mudar para que elas possam ter a mesma qualidade de vida e as mesmas oportunidades de desenvolvimento que as das outras.

Quando o assunto é a convivência social das crianças com TEA, José Araújo enfatiza a importância de a sociedade adotar atitudes respeitosas e adaptativas.

"Tudo começa com informação e respeito. Tentar ver o mundo sob o olhar de uma pessoa autista é um desafio, mas ajuda a entender que uma criança que não consegue usar a fala para se expressar pode acabar utilizando a linguagem física para demonstrar insatisfação ou angústia, por exemplo", afirma ele. 

O neurologista ressalta ainda que as estereotipias, como movimentos repetitivos ou comportamentos não convencionais, fazem parte do dia a dia da pessoa autista e "está tudo bem". "Compreender que essas características fazem parte do ser autista é essencial para uma convivência mais harmoniosa".

Para o médico, uma das maiores falhas da sociedade é esperar que as crianças autistas se adaptem a um mundo que não foi feito para elas. "Em muitos casos, a sociedade exige que elas se ajustem aos seus padrões, ao invés de criar um ambiente que acolha suas necessidades", explica. 

Ele defende que a adaptação de espaços públicos, como escolas, locais de trabalho, rodoviárias e aeroportos, é essencial para garantir que a inclusão seja real e não apenas teórica. A instalação de salas sensoriais ou de descompressão nesses lugares, sugere o neurologista, poderia ser uma solução para ajudar as crianças a lidarem com estímulos excessivos.

A demanda por essa postura acolhedora não é por acaso. O aumento significativo no número de diagnósticos de TEA nos últimos anos reforça a importância de iniciativas como as sugeridas pelo neurologista. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o transtorno afeta uma em cada 100 crianças no mundo. O relatório anual dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) indica que uma em cada 36 crianças de 8 anos é diagnosticada com TEA.

O primeiro passo nesse processo de convivência social, claro, é a identificação. José Araújo destaca que os sinais iniciais do TEA geralmente são muito sutis, o que pode tornar a percepção um desafio. 

"Os sinais mais precoces são pouco interesse em outras pessoas e crianças, poucas expressões faciais, atraso no desenvolvimento da fala, dificuldade em manter contato visual, movimentos repetitivos, brincar de forma pouco convencional", detalha ele. Reconhecer essas características cedo pode ser fundamental para garantir um acompanhamento adequado desde os primeiros anos de vida.

Terapias

As terapias têm um papel de destaque no desenvolvimento das crianças com TEA, sendo fundamentais para a evolução do neurodesenvolvimento, segundo o médico. Ele comenta que o tratamento é sempre realizado de forma multidisciplinar e deve ser adaptado conforme as necessidades de cada criança. "As terapias, assim como o apoio familiar e da sociedade, são essenciais para o progresso no neurodesenvolvimento de pessoas com Transtorno do Espectro Autista.

O atendimento é personalizado e ajustado de acordo com as demandas de cada paciente", explana. O neurologista da Hapvida NotreDame Intermédica dá o exemplo de uma criança com dificuldades na fala, que pode precisar de fonoterapia, enquanto uma com desafios comportamentais pode necessitar de acompanhamento psicológico. Para ele, esse olhar individualizado é fundamental para o êxito do tratamento.

Em relação ao tempo e intensidade das terapias, José Araújo afirma que essas variáveis precisam ser ajustadas de forma personalizada. "O tempo e a intensidade são individualizados de acordo com cada criança, quase como um trabalho artesanal", afirma ele, destacando que as sessões são orientadas pelos conselhos de classe de cada especialidade.

"Os profissionais têm autonomia para atuar como acharem necessário para cada paciente", explica, deixando claro que a abordagem precisa ser flexível para responder a cada particularidade.

A inclusão social de pessoas com TEA, portanto, depende de um trabalho conjunto. A sociedade precisa entender sua parte no processo, sobretudo que a adaptação não deve partir apenas da criança autista, mas também do ambiente ao seu redor. Para que isso aconteça, é essencial a combinação de um tratamento adequado, do apoio das famílias e, claro, da colaboração da sociedade.

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